Você é uma história que não sei contar
“Por te amar, eu tentei. Por me amar, eu desisti.”
(Samantha Silvany)
Eu não me reconheço nesse personagem. Logo eu, que conto tantas e variadas histórias, emudeço-me diante de tudo que vivemos até aqui e de tudo que somos juntos. Eu sei, mas não sei. Respeito, entendo, mas aceitar é um passo além. Fraquejo. Repenso. Conjecturo. E ratifico que nada sei.
São quatro anos e alguns meses de vivências, segredos, loucuras, trocas, cumplicidade, delícias, certezas doloridas, teimosia, amor e tantos outros sentimentos que compartilhamos. Sei e sinto que não foram em vão. Momentos eternizados em nós dois que nem mesmo os caminhos contrários que escolhemos apagarão de nossas biografias.
Somos tão iguais, nascemos sob o mesmo Sol, mas, ao mesmo tempo, somos tão diferentes. Eu mar revolto, você águas plácidas. Eu fogo ardente, você uma chama que um sopro qualquer apaga. Eu paixão, você calmaria. Eu preciso do arrepio, você abre mão dele. Meu coração batuca, pulsa, o seu bate para sobreviver. Meus olhos saltam aos desafios da vida, os seus recuam, amedrontam-se. Eu arregaço as mangas, destemida, e luto sozinha, você busca alianças, conforto e proteção. Não há pecado algum nisso, cada um é o que é, mas há um desencontro que se torna cada vez mais abissal.
Um dia, acreditei sermos almas gêmeas. Será que elas existem além dos meus sonhos de menina? Hoje, sei que um abismo imenso nos separa. Mas ainda não descobri o que me faz ficar. Vez acho que é o carinho, quase fraternal, que apesar de tudo, não se apaga. Vez acho que é esse fiapo de amor já transmutado que insiste em existir. O amor morre, é um fato, mas ele tem seu tempo para esmorecer. Respeito isso.
Sei que esse amor é meu, somente meu. Portanto, aguardar seu suspiro final é uma missão minha, absolutamente minha. Não há dor, não mais. Também sei, que do seu jeito e à sua maneira, existe algum sentimento. Porém, você coloca outras coisas em primeiro lugar. Eu sou puro coração, emoção, desatino e paixão, e você coloca razão, um ilusório conforto e medo em primeiro lugar. Que pena!
Eu pago qualquer preço, você não. Eu grito um grande foda-se para as aparências, você não. Eu dou uma imensa banana para qualquer dificuldade que se impor no meu caminho, você não. Para você os julgamentos contam, as adversidades te desconfortam, para mim não. Eu me banco. Banco minhas decisões e tudo aquilo que verdadeiramente sou. As inseguranças não dão as cartas para que eu siga meus próximos passos. Você não!
Eu sei que você me admira. Nossas conversas e confissões me contam. Seus olhos me contam. Porém, isso não te leva a agir diferente. Não o julgo, não o condeno. Lamento, é verdade, pois sei que as coisas poderiam ser diferentes e poderíamos viver algo verdadeiramente incrível. Apenas aceito, tento entender, e sigo minha jornada, explorando cada maravilhosidade da minha vida sem você. Poderia estar ao meu lado, explorando toda essa explosão que meu peito vulcânico manifesta quando o assunto é você, mas você escolheu trilhar outros caminhos. Acomodou-se numa história “confortável” e a mim só resta respeitar a sua escolha, aceitar, e realinhar a minha rota de acordo com os novos ventos que sopram em minha direção.
Algo sussurra em meus ouvidos que a frustração e o arrependimento cobrarão seu preço no futuro, mas sei que será tarde demais. A vida é feita agora! Cada instante interessa. O amanhã é um imenso talvez, não temos como contar com ele. Eu não conto. Vivo! Não espero! Ajo!
Por aqui, a vida segue, mesmo com a ausência da sua presença. Sem pesares e feliz, aberta, plena. Eu aprendi a dizer adeus. Já escrevi sobre isso nesse blog. Aprendi a deixar as pessoas irem, e a viver ao lado de quem realmente queira estar.
Pode ser que daqui a alguns anos eu consiga contar esta história sem tanta emoção, com mais razão, e com um algum sentido. Hoje, ela é um excesso de sentimentos, uma coletânea de peças que não se encaixaram, vítima de um envolvimento que eu insisto em permitir, nadando contra todas as certezas escancaradas. Sigo “negando as aparências, disfarçando as evidências” inutilmente.
Eu te amo, você sabe! Meus olhos falam mais por mim do que qualquer palavra, e você tem o privilégio de assisti-los de perto, intimamente, respirando no mesmo compasso. Mas eu me amo mais! E esse amor me guia, me impulsiona e, lamentavelmente (ou não), afasta-me cada vez mais de você.