Menino do Rio
“Tudo o que tu sonhares
Todos os lugares, as ondas dos mares
Pois quando eu te vejo eu desejo o teu desejo
Menino do Rio, calor que provoca arrepio
Toma esta canção como um beijo.”
(Caetano Veloso)
Esse ano começou bem estranho. A morte do meu pai no final de 2021 deu o tom e o ritmo ao início de 2022. Uma parte importante de mim partiu com ele naquele primeiro de dezembro. O mundo não parou de girar e, diante de um cenário desbotado e sem viço, a vida me trouxe outros desafios nada legais. Durante o primeiro semestre, as lágrimas foram companheiras constantes e as más notícias, que insistiam em chegar, acumularam-se diante da minha inércia. No pacote veio o famigerado cansaço emocional e me fechei, barrando os avarentos sentimentais, aqueles que muito exigem e nada oferecem. Escolhi a minha própria companhia e lambi minhas feridas sozinha, até que cicatrizassem.
Sou aquela que se recusa a cair e luta bravamente para chutar a tristeza para longe. Não tenho vocação para ser triste, mas confesso que por muitas vezes esmoreci perdida num labirinto de emoções e incertezas. A Pollyanna que me habita sempre dá um jeito de soprar os ares da esperança no meu rosto e isso me deu fôlego para continuar em frente, apesar de tudo. Não recuso os convites que a vida me faz. E foi assim que, de repente, no mês de junho, enxerguei-me em Cuba, numa viagem que trouxe luz ao meu horizonte, até então, enevoado.
Respirar novos ares fez com que eu virasse a chave, zerasse os reveses, saísse da minha vereda particular. O clima, as paisagens, os cheiros, os aromas, os sabores, o povo, os dias quentes e coloridos, mudaram a frequência da minha vibração. Senti como se a vida me desse um tapa na cara, dizendo: "Acorda e vai viver! Essa apatia não combina com você!” Concordei e obedeci!
Eu me distraí e, perdida em levezas e prazeres, deparei com um sorriso que despertou um delicioso desejo de levar o meu sorriso ao encontro dele. Ousei um beijo! Fui correspondida e, a partir daí, fomos nos descobrindo, nos curtindo, nos divertindo juntos, e a viagem ficou ainda mais legal.
O Menino do Rio entrou na minha vida de forma leve e gostosa, despertando uma parte minha que eu havia deixado de lado por cansaço, desgaste, bloqueios, sei lá. Os beijos não se limitaram à Cuba, o Brasil tem nos proporcionado bons reencontros. Seja em São Paulo, no Rio de Janeiro ou aonde a vida nos convidar a estar. Não temos regras, não temos barreiras. Temos desejos e prazer de estar um na companhia do outro.
Tenho me surpreendido com as minhas atitudes. Há muito tempo não me permitia mergulhar dessa maneira numa história e tem sido tão bom. O que eu espero disso? Nada! Estou vivendo o hoje, segundo a segundo. E é bom exatamente por isso, não existem cobranças ou compromissos ou planos. O que existe é uma imensa conexão de almas e corpos. Somos espíritos livres que se encontraram e se encaixaram neste espaço de tempo.
Existe admiração e torcidas mútuas, bons papos, deliciosas risadas. E volto a citar a palavra leveza, pois é ela que tem comandado esse capítulo inesperado da minha biografia.
Gosto de quem sou quando estou ao lado dele. Gosto de me enxergar nos seus olhos. Gosto de sentir tudo aquilo que provoco nele. Gosto de sentir tudo aquilo que ele provoca em mim. É incrível estar dentro daquele abraço. Tem sido gostoso e que assim seja até quando acharmos que tem que ser. Que seja infinito enquanto nos fizer bem.
No meio de tudo isso existe a saudade. A distância pode ser cruel às vezes, mas no nosso caso acho que ela traz um tempero especial. Os reencontros ficam cada vez melhores e as despedidas são apenas “até breve”, deixando aquele gostinho de quero mais.
Tenho vivido novas experiências, conhecido pessoas bacanas, explorado novos lugares. Essa história tem me permitido desbravar a cidade onde nasci e que tanto amo, mas com a qual não tinha intimidade. A minha carioquice foi reativada em 100%. Que delícia!
Sigo vivendo! Que venham os próximos capítulos!
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