Eu gosto de sexo!
“O sexo não é a consequência do amor, é a consequência do desejo.”
(Charles Canela)
Já escrevi bastante sobre sexo, meus livros estão recheados de capítulos sobre o tema. É assunto constante e inesgotável aqui no blog. A vida, minha matéria-prima da escrita, sempre me traz uma nova reflexão, a partir de uma nova experiência, e sinto que preciso dividir esses pensamentos com vocês. Portanto, eis-me aqui, uma vez mais, falando sobre sexo.
Estamos em 2022 e ainda há quem se escandalize quando uma mulher afirma que gosta de sexo. Quando a afirmação sai da boca de um homem, ninguém estranha, todos aplaudem o garanhão pegador. Validação de masculinidade. Mas quando sai da boca de uma mulher, a história é diferente. Não é preciso nem chegar ao ponto final da frase para que seja julgada, sentenciada e condenada.
A mulher sempre foi encarada como um objeto de prazer e satisfação sexual masculina. Ela não tem que querer nada, basta servir, de preferência calada e obediente. Quando ela sai do quadradinho delimitado a ela, todos os dedos fatalmente serão apontados em sua direção.
Puta, vagabunda, vadia, perdida, mulher da vida, piranha, vaca, quenga, biscate, devassa, e por aí segue a lista que define aquela que ousa expor o seu desejo. Infelizmente, essa não é uma prática apenas dos homens, mulheres tolhidas e reprimidas costumam fazer o mesmo, ainda que secretamente admirando a coragem da outra. A linha que separa a admiração da inveja é tênue.
Talvez, se eu usasse uma forma mais poética para falar a respeito dos meus desejos sexuais eu parecesse menos pervertida, mas não curto os floreios, prefiro ser direta e afirmo, sem medo algum de julgamentos e condenações, que EU GOSTO DE SEXO! E gosto porque é gostoso, porque é bom, porque é prazeroso, porque me faz feliz. Como diz Wood Allen, “Sexo é a coisa mais divertida que eu já fiz sem rir.”
Há uma certa romantização sobre a sexualidade feminina. É comum ouvirmos, “Homens fazem sexo, mulheres fazem amor”. Homem trepa, mulher não. Tão clichê e tão cafona. Pois eu faço sexo, transo, trepo, faço amor, e isso vai depender do parceiro, da ocasião, do sentimento envolvido, do tesão. Sexo com amor é sensacional, não vou negar. Quando atingimos o orgasmo do corpo e o da alma simultaneamente é foda. Porém, o sexo pelo sexo, aquele que os desejos comandam, despudorado, corpos plenamente entregues ao prazer, com uma pitada de loucura e outra de desatino, é incrível.
É preciso parar de rotular desejos e sentimentos e simplesmente deixar fluir. Eu não preciso de amor para transar. Um dia acreditei precisar, porque me educaram assim, até que me libertei desse conto da Carochinha inventado por um mundo patriarcal que adora reprimir mulheres.
Sexo faz parte da vida de qualquer ser humano adulto, independente de seu gênero. Ora, ora, senhoras e senhoras, se condicionarmos a transa ao amor, seremos um bando de frustrados amargurados cheios de tesão reprimido. Levando em consideração que uma vida sexual se inicia na adolescência e vai até o final dos nossos dias, assim espero, se o amor não nos sorrir, viraremos assexuados? Não, obrigada! Eu gosto de brincar com fogo. Meus desejos são altamente inflamáveis. Quero cada vez mais.
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Aos 47 anos de idade, sinto-me dona do meu corpo e das minhas vontades. Livre de pudores e preconceitos, principalmente daqueles que um dia tive comigo mesma. O leme da minha vida e da minha sexualidade está em minhas mãos, e é tão bom poder conduzi-lo da maneira que quero, bancando quaisquer possíveis consequências.
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Como sempre digo, o que os outros dizem ao meu respeito é apenas o que os outros dizem, e está longe de corresponder à realidade ou me definir. Aliás, nada me define, sou uma obra inacabada, em eterna demolição e reconstrução.
Eu gosto de sexo! De sexo sem rótulos, regras ou pudores. Sexo fluído, sentido, gozado. Minha única imposição é o respeito. Respeito a mim mesma e a quem divide o momento comigo, o resto é perda de tempo, é perda preciosa de prazer.
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