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Eu aprendi a dizer adeus

“Todos os meus dias são um adeus.”

(François Chateaubriand)

 

O apego é uma das mais eficientes âncoras que nos mantém em lugares ou situações que não nos comportam mais. É preciso saber a hora de partir, é o que dizem, e eu concordo. Porém, saber a hora de partir nem sempre nos faz partir. Paralisar diante de uma adversidade faz parte do processo. É preciso força, determinação e uma dose extra de coragem para encarar o desconhecido, aquilo que está além da névoa que nos cega e nos amedronta.

 

A tal zona de conforto é uma armadilha sedutora, ela sorri gostoso. Já escrevi sobre ela em Fabianices:

 

Capítulo 43 – Zona de (des)conforto

 

“Zona de conforto para mim é como aquele sofá velho que já tem a marca do nosso corpo e que a gente sonha em se jogar após um longo dia de trabalho. Ele nos abraça! Esse conforto, porém, é ilusório, tem prazo de validade. Se passarmos muito tempo deitados ali, levantaremos com uma baita dor na coluna.”

 

Partidas sempre me partem demais, mas já aprendi, nessa caminhada de 47 anos, que a regeneração é possível. Meu divórcio foi uma grande escola que me ensinou essa lição com maestria. Nos muitos textos que já publiquei por aqui, e também nos meus livros, contei algumas vezes que durante o processo de dor latente, eu repetia para mim mesma uma espécie de mantra: “Fabiana, perdemos as pessoas para a morte e superamos. Conforme-se!” O famoso “Aceita que dói menos”.

 

O luto pelo final de qualquer ciclo, seja ele profissional, de amizade, de relacionamentos, deve ser vivido e respeitado, mas precisa ter prazo de validade. Encerramentos fazem a roda da vida girar.

 

Quantas vezes nos percebemos insatisfeitos na vida profissional e a única coisa que fazemos é reclamar. Reclamar é válido, ajuda a desopilar o fígado, mas uma reclamação sem ação vira combustível que incendeia ainda mais a nossa insatisfação. É preciso traçar novas rotas que nos guiarão por novos caminhos e nos conduzirão ao novo. Pode levar mais tempo que o desejado, pode ser frustrante, mas tentar é sempre uma alternativa melhor a acomodar. 

 

Paro, penso e reflito em quantas amizades que se acenaram como perpétuas e se findaram no decorrer da minha existência. No entanto, não chegaram ao ponto final sem aviso prévio. Antes disso, foram dando sinais de toxicidade, de incompatibilidade, e tudo isso foi se sobrepondo ao carinho que um dia existiu e desatando laços. É chato, dói, magoa, frustra, mas insistir em algo falido se torna ainda mais chato, dói, magoa e frustra ainda mais. Saber a hora de partir, de retirar-se de batalhas já perdidas, é essencial, é questão de sobrevida. 

 

Quando a decisão da partida vem do outro e não de nós, fica ainda mais difícil a aceitação, mas ela é tão necessária. Qualquer tentativa de fazer o outro ficar só se transformará em humilhação. Quando alguém nos comunica o fim de uma relação, isso já foi pensado e estruturado. A notícia derradeira só chega a nós após amadurecida.

 

Não estou aqui dizendo que é fácil. Se fácil fosse, não teríamos tantas pessoas batalhando para reestabelecer suas saúdes emocionais. A vida nos cobra preços bastante altos por cada ato pensado ou impensado. A cada ação uma consequência positiva ou negativa. É o eterno equilíbrio de pratos sobre varetas. Mas estou dizendo que sim, que é possível e que sempre devemos nos escolher em primeiro lugar. Sei bem o que digo, só consigo escrever e refletir sobre o que eu vivi e senti. Sem dúvida é uma tarefa árdua, entretanto, engrandecedora.

 

A vida é um sopro, foi o que me contaram e acreditei vivenciando o que se descortina diariamente diante de mim. Frente a isso, não podemos estacionar em histórias finitas sendo que existem tantas outras à nossa espera para serem desbravadas, vividas, sentidas, realizadas. A teimosia só é válida quando nos empurra para frente, senão, descarte-a na lata de um lixo inacessível.

 

Eu acredito que a dificuldade do ser humano em aceitar e acatar finais está diretamente ligada ao fato de não saber perder. Ninguém gosta de perder, de sentir-se abandonado, descartável. Eu não gosto! O punhal deste sentimento tem o dom de nos atingir de forma visceral. Mas não gostar difere de não aceitar. Eu aprendi a aceitar e, portanto, aprendi a dizer adeus sempre que a vida assim me exige. Ser humano é também aprender a lidar com nosso lado menos legal, com os monstrinhos internos que nos assombram. Duelo pessoal e intransferível.

 

A aceitação traz consigo uma lista de tarefas: lidar com a dor, sofrer o necessário, reerguer-se, dar aquela lustrada marota no amor-próprio, abrir-se para o novo e se permitir vivê-lo. Pode ser bom, pode ser muito bom! 

 

Eu aprendi a dizer adeus! Eu não tranco as portas. Elas sempre estarão abertas para mim e para aqueles que fazem parte da minha vida. Assim como saio quando julgo necessário, aceito que passem por elas aqueles que não estão mais felizes ao meu lado. Isso serve para empregadores, amigos, família, amores.

 

A vida é um mar aberto, ainda há muito a remar. Ancorar em águas ilusoriamente calmas, não é para mim. Eu quero é desbravar mais e mais e cada vez mais.

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© 2025 por Fabiana Rongo e Jaimar Martins | Criado com Wix.com

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