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Eu não sou guerreira!

“Não abandones as tuas ilusões.

Sem elas podes continuar a existir, mas deixas de viver.”

(Mark Twain)

 

A infância e a adolescência são tão breves e passamos boa parte delas sonhando em crescer, ambicionando a tão utópica liberdade. Perdemos tempo precioso focando no futuro e, muitas vezes, negligenciando o presente. Se eu pudesse olhar nos olhos da Fabianinha hoje, lhe diria: “Desencana! Aproveite cada segundo, pois cada um é único e exclusivo. Aproveite mais o colo do italiano. Você terá a vida toda para ser gente grande.”

Ser gente grande! Adulta! Que missão! Esse texto nasce a partir do meu cansaço.

Eu já contei muitas vezes aqui que odeio o termo “guerreira”. Isso não é elogio, é a constatação de um mundo injusto e patriarcal. A romantização do feminino não nos leva a lugar algum, ao contrário, nos distancia cada vez mais do real e do ideal. Eu não deveria ter que guerrear por respeito, por igualdade, por direitos. Mas, enquanto mulher, vivo e respiro inúmeras batalhas todos os dias. E olha que já parto da condição privilegiada de ser branca e hetero.

Mulheres já nascem com suas lutas particulares, uma luta que a maioria dos homens desconhece ou finge desconhecer por comodidade e conveniência. Agregam-se a essas lutas particulares todas as outras que uma vida adulta impõe sem piedade.

Algumas pessoas escolheram fazer do viver uma eterna competição, enxergando as outras como concorrentes ou inimigas. Quando percebemos, estamos envolvidos em alguma teia da ambição alheia. Já encontrei alguns demônios pelo caminho e eles eram bem humanos.

Eu não tenho espírito competitivo, ao contrário, quando enxergo uma competição se aproximando de mim, convidando-me ao embate, eu recuo. Sou aquela que abre caminho, deixando a vitória para quem está sedento por ela. Eu entrego o “troféu”. Alguns podem chamar isso de covardia, eu chamo de sabedoria.

Nada que eu tiver que disputar no braço com alguém tem valor para mim. Um cargo, uma posição, um amor ou qualquer outro “prêmio”.  Por certas coisas, não se briga. Conquistas são frutos de atributos próprios, e não do pé esticado que deixamos no caminho para o coleguinha tropeçar. Na minha concepção de vida a única a ser vencida sou eu mesma. Luto para transpor meus limites, meus medos. Não olho para os lados, não foco em outro caminho que não seja o meu.

Escolho não entrar na energia da disputa. Isso é perda de tempo, perda de vida. Não me faz bem. A minha luta sempre será interna, faço uso de armas que preservarão minha sanidade mental. Não permito que o oponente perceba que ele está me atingindo, e de fato está, afinal, ninguém é imune à maldade.

Você pode até querer ocupar o lugar de alguém, estar na posição de alguém, viver aquele amor que o outro alguém vive e te causa inveja, mas você jamais deixará de ser quem você é. Você pode conseguir o que o outro tem, mas jamais será esse outro, e a frustração cobrará seu preço. Não há plástica que conserte a feiura da alma. Às vezes, o “objeto” conquistado perde o encanto quando possuído. Igual criança que quando leva o brinquedo da loja para casa esquece-o num canto qualquer depois de poucos dias.

Certa vez, percebi-me dentro de uma disputa baixa pela minha posição dentro da empresa que trabalhava. Diante da situação, só consegui sentir nojo e indignação. Minha vontade era bater nas costas da criatura e dizer: “Fique com essa merda porque eu estou indo embora. Alimente-se das migalhas que deixei.” Mas era preciso agir com inteligência. Pior que detectar o inimigo, é ver os demais caindo em sua rede de artimanhas e mentiras. Foquei em fazer o meu trabalho com a competência de sempre, mas de olhos bem abertos. A criatura caiu por si só, tropeçando em seu próprio ego. Máscaras fatalmente caem.

Infelizmente nem todo final é feliz e algumas máscaras tardam a cair. Caem quando já é tarde demais e o estrago já foi feito. Já vivi isso em alguns relacionamentos. Aliás, quando o assunto é relacionamento, jamais aceito a disputa. Não quero e não preciso lutar por amor. Eu me retiro. Eu não mereço isso. Eu ainda me amo mais! Não que seja fácil, mas sigo meu caminho com dignidade, lambendo solitariamente as minhas feridas, até que elas cicatrizem. Renascer tem sido uma prática constante por aqui.

Eu já tive inúmeras constatações de que finais podem ser convites para novos e lindos começos. Todas as vezes que achei que a vida estava me tirando algo, lá na frente, descobri que ela, na verdade, estava me dando. Jamais me fecho por conta de frustrações vividas. Sei que novos nasceres do sol virão. Escrevi em Fabianices + O papo continua, meu segundo livro, “a vida é feita de reticências”. Até que se chegue ao ponto final, o derradeiro, há muito a ser vivido e eu me recuso a viver frustrada. Não tenho esse dom!

Como disse no começo, esse texto nasceu a partir do meu cansaço e coloco o seu ponto final sem saber se ele fará algum sentido para quem se dispuser a lê-lo. Certas coisas só saem de mim por escrito e hoje escolhi jorrar essa confusão de pensamentos e sentimentos que precisava extravasar.

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© 2025 por Fabiana Rongo e Jaimar Martins | Criado com Wix.com

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