Pai
“Ser pai é ser perto.
E quando estamos bem perto podemos ver as imperfeições,
as vulnerabilidades, os medos e a humanidade.
E isso é amor.
A coragem de ser sempre perto.”
(Zack Magiezi)
Eu já escrevi muito sobre ser mãe e sobre a minha experiência com a maternidade. Nunca escrevi sobre ser pai, pois não é meu lugar de fala. Tudo que eu falar sobre o tema não será a partir de uma vivência concreta, mas sim fruto de uma observação, e isso não reflete a realidade. Tomo muito cuidado ao opinar sobre qualquer assunto para não me tornar apenas uma chata palpiteira que tem opinião formada sobre tudo.
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Porém, hoje é Dia dos Pais e eu queria falar a respeito. Eu não sou pai e não posso falar como tal, mas posso falar sobre os pais que fazem parte da minha vida e sobre minhas experiências com eles. O meu pai e o pai do meu filho.
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Nunca enxerguei meu pai como um herói. A humanidade e a fragilidade dele sempre estiveram presentes na nossa vivência. Suas possíveis falhas nunca foram negligenciadas. A cada ato falho, que dá aquela arranhadinha na admiração, é um ”poxa, pai!”, mas nada que abale o nosso amor. Errar é humano e os pais humanos erram, mesmo que seja tentando acertar. Enxergá-los como mortais que são ajuda muito na relação. Idolatrias e idealizações são a base do fracasso de qualquer amor. Quanto menos expectativas, menos frustrações. Viver é deixar fluir! Amar é deixar fluir! Sou totalmente adepta do sentir mais e racionalizar menos os sentimentos.
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Meu pai sempre foi o tipo caladão, mas seu olhar, seu sorriso ou seu abraço me dizem mais que qualquer “eu te amo” que ele possa proferir. Meu pai transpira afeto, amor, acolhimento. Eu carrego em mim as melhores lembranças de uma infância amada, cuidada, acarinhada. Na minha bagagem de vida as sensações em relação à paternidade são leves e gostosas de carregar. Elas inspiram doçura!
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Eu cresci aprendendo através dos bons exemplos e das belas ações deste homem que tenho a honra de chamar de pai. Esse será o maior legado que ele vai me deixar.
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Gaetano Rongo sempre esteve perto para amparar as minhas quedas e jamais limitou o meu mundo a partir da visão do mundo dele. Respeitou todas as minhas vontades, mesmo sabendo que essa ou aquela escolha não me levaria pelos melhores caminhos ou me conduziria aos melhores destinos. Aceitou, aconselhou, torceu, esperou e amparou quando voltei chorando, dispensando o bom e velho “eu te disse!”
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Personagem essencial na minha existência. Aos 86 anos de vida, dos quais tenho a honra e o prazer de desfrutar 46 deles, meu pai precisa de ajuda para ações básicas do cotidiano devido à uma doença degenerativa que o acomete. Faço a parte que me cabe para tornar seus dias menos dolorosos e difíceis, e para mim isso não é sacrifício algum, é amor se manifestando. O amor que ele sempre dedicou a mim volta a ele em forma de agradecimento. Cuidar dele nesta fase difícil é o conforto que restará quando ele não mais estiver entre nós. O que estamos vivendo nesse período nos aproxima, estreita nossos laços, aumenta ainda mais o nosso amor. Cuidarei até que a chama se apague.
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Ao meu pai toda a minha devoção!
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E na outra ponta da minha história existe o pai do meu filho. Admiro-o imensamente. Como sempre digo, divórcios dissolvem casamentos, mas não dissolvem paternidades. Por aqui, soubemos muito bem separar as coisas e não permitir que qualquer desentendimento entre ex-marido e ex-mulher pudesse macular a relação entre pai e filho ou entre mãe e filho. Tenho muito orgulho de nós por termos sabido conduzir a separação da melhor maneira que pudemos. Preservamos ao máximo, sem roubar-lhe a realidade, o fruto daquilo que um dia foi amor.
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O amor jamais pode ser deixado de lado. Ele acaba, é fato, mas não podemos apagar as boas memórias que ele deixou, alimentando apenas a dor. Eu acredito verdadeiramente que são as boas lembranças que nos carregam nos braços nos momentos difíceis. Jamais renegarei o meu passado e o meu ex-marido também faz o mesmo. Talvez esteja aí o “segredo” da nossa boa relação, apesar de todas as mágoas.
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Brinco com ele dizendo que não fui boa em escolher marido, mas que para escolher pai para o meu filho eu fui sensacional. Nota dez para mim!
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O pai do Pietro, assim como o meu, não é o pai herói. Que bom! Ele é humano e falho. É menos doce que o meu e, às vezes, quer fazer prevalecer o seu desejo. Porém, tem uma qualidade admirável, ele sabe reavaliar, recuar e pedir desculpas. Ele dribla a si mesmo para respeitar as escolhas do filho.
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Ao pai do meu filho todo meu respeito e admiração!
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Os pais da minha vida me inspiram. Os pais da minha vida me mostram todos os dias que o amor é possível, mesmo diante das adversidades e das diferenças. Os pais da minha vida são humanos, são presentes. Os pais da minha vida merecem ser reverenciados nesse dia especial.
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Feliz e lindo Dia dos Pais!
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