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Cicatriz

“Tenho várias cicatrizes, mas estou viva. Abram a janela.

Desabotoem minha blusa. Eu quero respirar.”

(Pagu)

 

Eu me identifico muito com a definição de cicatriz dada por Rita Lee: “Adoro cicatrizes, tatoos da vida. Me fazem lembrar que eu fui mais forte do que aquilo que me feriu.”

 

Tatoos da vida! Aos 47 anos de idade carrego uma imensa coleção de tatoos da vida. Cicatrizes são parte do processo de viver e significam “eu sobrevivi”. Só não as tem quem escolheu não combater. Remendar-se e cicatrizar-se é necessidade de toda hora. A gente vai aprendendo a conviver com as marcas do passado, os arranhões na alma. Vez ou outra as cicatrizes latejam, principalmente quando deparamos com algo que nos remete à experiência que causou a ferida. Mas já não é uma dor latente, no máximo um incômodo.

 

Talvez velhas feridas nos ensinem algo, nos ensinem lições sobre o que evitar no futuro. “Gato escaldado tem medo de água fria”, sempre disse a minha mãe. Tão complexo isso na minha mente pisciana quando o assunto é relacionamento. Após tantas quedas e experiências diversas de desamor, quando uma nova história surge inesperadamente, o medo de um novo sofrimento tenta de todo jeito me puxar pela mão e me conduzir pelo covarde caminho do “melhor não, Fabiana”. Teimosamente eu sigo para o lado oposto, vou com frio na barriga, mas vou. Como já escrevi por aqui, “A beira do abismo pode nos levar a voar, é preciso arriscar.”

 

Nenhum amor é igual ao outro. Algumas coisas nós apenas temos que aprender de novo e de novo e de novo... Sou uma eterna aprendiz!

 

No meu texto “Um bicho-papão chamado medo”, eu disse:

 

“Um amor não correspondido ou uma relação que teve seu fim com dor e tristeza não pode e não deve ser a régua para medir nossas próximas relações. Cada história é uma história, cada ser humano é único e cada casal gera uma combinação ímpar. Fabiana com sicrano é uma combinação, Fabiana com beltrano é outra, e assim segue o baile da vida. O medo de sofrer novamente não pode dar as cartas. Quando o assunto é amor, sofrerei infinitas vezes, pois não abro mão de senti-lo, vivê-lo, sorver até a última gota. As histórias podem ser finitas, mas podemos criar momentos eternos e inesquecíveis e é disso que me alimento. Um final não apaga toda uma trajetória. Que saibamos extrair o melhor de cada estrada percorrida.”

  

É isso! Nada que eu tenha vivido até esse momento, por mais doloroso que tenha sido, fez com que eu mudasse de ideia. Feridas e cicatrizes não me detém. Tenho um espírito kamikaze quando o assunto é o coração. Não entro em nenhuma história se não há um interesse verdadeiro ou uma paixãozinha pulsando, um encantamento fazendo meus olhos brilharem. Uma vez que identifico esses ingredientes que me levam a respirar diferente, eu mergulho. Confesso que já mergulhei em poças rasas na esperança de serem mares. Autoengano!

 

Os anos vividos nos levam ao acúmulo de experiências. Às vezes, a bagagem pesa e precisamos encontrar um meio de aliviá-la. Identifico na minha um peso adquirido recentemente que é totalmente desnecessário, do qual ainda não consegui me livrar, mas sigo no propósito, amarras não combinam comigo: o trauma. Por mais que eu entre de cabeça numa nova história, um eco ressoa em minha mente, “Vai se ferrar de novo, questão de tempo”. Talvez seja uma espécie de blindagem ineficiente que meu instinto de sobrevivência desenvolveu. Acredito desacreditando e se eu me ferrar vou falar para mim mesma, “Eu já sabia!”, como se isso fosse evitar a ferida, a consequente dor e a nova cicatriz que surgirá e insistirá em latejar nos dias nublados.

 

Meu mapa de cicatrizes é amplo, porém enxergo isso como um sintoma da vida. Vida bem vivida, sentida, pulsada! Sigo apaixonada pela minha trajetória e aceitando os convites que ela me apresenta. Alguns podem trazer dor, mas também podem trazer momentos incríveis. O lance é aprendermos a equilibrar essa balança, olhando com uma boa dose de carinho para o que cada história deixou de bom. As cicatrizes existem, que bom que existem, sinais de cura. Mas elas não existem sozinhas, também existem os sorrisos sincronizados, os corpos entrelaçados, as respirações ofegantes num mesmo compasso, os beijos ardentes de desejo, as explosões de prazer, as almas em sintonia, e isso também fica!

 

Estou à beira de um novo precipício e não vou recuar. Já soltei a mão do medo e abri os braços!

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© 2025 por Fabiana Rongo e Jaimar Martins | Criado com Wix.com

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