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Um bicho-papão chamado medo
 

“Devemos construir diques de coragem para conter a correnteza do medo.”

(Martin Luther King)

 

Viver requer coragem! Segundo Mark Twain, “Coragem é a resistência ao medo, domínio do medo, e não a ausência dele.”

 

A vida de todo e qualquer ser humano apresentará adversidades pelo caminho que gerarão desconforto e apreensão. Numa escala maior ou menor, mas apresentará. Cada indivíduo terá seu grau de resiliência, de vontade, de força, de perseverança, de luta, de esmorecimento, de coragem.

 

O medo é um sentimento intrínseco a qualquer um de nós, vem na bagagem quando aportamos no mundo. O medo é uma espécie de perturbação diante da ideia de que estamos expostos a algum tipo de perigo ou do desconhecido. É o nosso sinal de alerta. Do ponto de vista da Psicologia, o medo é um estado afetivo e emocional, necessário para a adaptação do organismo ao meio. Portanto, sentir medo é normal, ele representa nosso instinto de sobrevivência e preservação.

 

O medo deve ser respeitado, ponderado, mas jamais engrandecido. Não podemos colocá-lo em lugar de destaque. A ênfase do medo é o pavor e, quando ele atinge este estágio, nos paralisa, estagna, nos rouba o melhor da vida.

 

Um dos maiores erros que podemos cometer é o de alimentar o medo de cometer algum erro, de dar um passo em falso. Só não erra aquele que nada ousa, nada arrisca e, consequentemente, não desfruta o melhor de suas existências. Errar é humano, faz parte do cardápio. Acredito que aqueles que temem demais as consequências da vida já estão meio mortos. Passam por esse mundão apenas como expectores de si mesmos, aceitam o morno como temperatura ideal e esquecem que é o fogo o responsável pelas mais preciosas alquimias.

 

Em Fabianices, escrevi:

 

“Há quem encare o fogo como aquilo que apenas queima e promove estragos. Eu o respeito por tal capacidade, mas jamais esqueço que é este mesmo fogo que aquece e conforta em noites de inverno. Para tudo na vida, uma dose de respeito e ponderação.”

 

A beira do abismo pode nos levar a voar, é preciso arriscar.

 

O medo atribui a pequenas coisas grandes sombras. Sob a perspectiva do medo, nada é suficientemente seguro. É fato que a vida não nos oferece garantia alguma, o lance é tentar ou frustrar-se. A conta é essa. Como tão bem definiu Fernando Pessoa, “Viver não é preciso”. É isso! Não há precisão alguma, apenas um apanhado de incertezas e interrogações. Viver é desbravar cada segundo, muitas vezes, de olhos vendados.

 

Prefiro enxergar tudo pela perspectiva do amor, que me leva a crer que tudo é possível. Penso que ao evitarmos uma possível infelicidade estamos, na verdade, impedindo que a felicidade nos atinja, é o modo mais eficiente de tornar-se infeliz. O medo de sofrer é pior do que o próprio sofrimento. Recuso-me a blindar-me de maneira que o melhor da vida não me alcance.

 

Pessoas receiam mudanças em suas vidas, eu temo que as coisas nunca mudem. Eu temo o próprio medo, não quero senti-lo a ponto de estagnar. Imagino uma vida pacata, sem batucadas no coração, sem frio na barriga, sem emoção, com gargalhadas abafadas e isso sim me amedronta. Quero explorar cada oportunidade, cada 0,0001% de chance de dar certo. Quero sofrer apenas pelo inevitável, pelo fracasso da tentativa e não pelo da paralisia diante do novo ou do diferente. Eu me recuso a sofrer por efeito da minha covardia, por calcular tanto os meus passos que jamais chegue a lugar algum.

 

Um amor não correspondido ou uma relação que teve seu fim com dor e tristeza não pode e não deve ser a régua para medir nossas próximas relações. Cada história é uma história, cada ser humano é único e cada casal gera uma combinação ímpar. Fabiana com sicrano é uma combinação, Fabiana com beltrano é outra, e assim segue o baile da vida. O medo de sofrer novamente não pode dar as cartas. Quando o assunto é amor, sofrerei infinitas vezes, pois não abro mão de senti-lo, vivê-lo, sorver até a última gota. As histórias podem ser finitas, mas podemos criar momentos eternos e inesquecíveis e é disso que me alimento. Um final não apaga toda uma trajetória. Que saibamos extrair o melhor de cada estrada percorrida.

 

Concluo reafirmando que sentir medo é normal, mas que não podemos permitir que esse bicho-papão, que perece mais feio do que realmente é, assuma as rédeas da nossa vida. Que tenhamos a coragem e a bravura como bússolas.

 

“Façamos da interrupção um caminho novo. Da queda um passo de dança, do medo uma escada, do sonho uma ponte, da procura um encontro!” - Fernando Sabino

© 2025 por Fabiana Rongo e Jaimar Martins | Criado com Wix.com

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