Razão X Emoção
“A razão tira emoção à vida.”
(Friedrich Nietzsche)
Atualmente, muito se fala em inteligência emocional. Inteligência emocional é um conceito presente na Psicologia, criado pelo psicólogo norte-americano Daniel Goleman. Segundo ele, um indivíduo emocionalmente inteligente é aquele que consegue identificar as suas emoções com mais facilidade, e possui a capacidade de se auto motivar e seguir em frente, mesmo diante de frustrações e desilusões.
Na teoria tudo funciona lindamente bem e sem máculas, porém, a realidade nos oferece desafios mais complexos. Acredito que o grande desafio do indivíduo do século XXI é a busca pelo equilíbrio desse binômio, razão e emoção. Essa antítese que nos habita, muitas vezes, nos rouba a paz. A sociedade nos cobra, nós nos cobramos e o conflito é certo.
Há quem seja 100% razão, há quem seja 100% emoção. Eu não sou fã dos extremos e dos radicalismos. Não sou adepta dos maniqueísmos, eles prejudicam a equalização da nossa balança existencial. Para mim, certas coisas coexistem e se completam: corpo e alma, dever e prazer, razão e emoção. Harmonizá-las é o segredo.
A emoção é o que nos move, é o combustível, o fogo que faz rodar as máquinas. Encontrar o perfeito equilíbrio entre cérebro e coração é atingir a tão sonhada inteligência emocional, e esta não consiste em segurar as emoções, mas sim em deixá-las agir, sentindo-as, usando a razão como uma espécie de fio terra.
Utopia? Talvez! Mas tenho conseguido cada vez mais esse equilíbrio. Ainda falho humanamente, perco-me pelos labirintos da minha mente, procurando respostas que me oferecem novas perguntas, e creio que sempre falharei, mas tenho acertado o compasso pelo caminho, sem me desgastar ou me quebrar tanto.
Apesar de eu ter uma razão bastante inteligente, com visão de RX eu diria, entendendo coisas que muitas vezes preferiria ignorar, eu sou uma pessoa movida pela emoção. E eu sei, por inúmeras experiências, que a emoção erra o alvo com mais facilidade, mas eu permito, por teimosia ou intensidade, que ela me guie. Eu não sei existir de outra maneira. Eu aposto todas as fichas, agarrando-me ao 0,0001% de chance de êxito. Pago o preço, mesmo sabendo que ele pode ser bem alto. Como disse num dos capítulos de Fabianices, “Não economizo nem dinheiro, imagina sentimento”.
Eu sou o clássico caso do “Faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço”, mas não me condeno. Aprendi a viver na intensidade da emoção e tenho colhido meus momentos de felicidade. Amigos que me querem bem, julgam-me mesmo sem querer, não entendem algumas escolhas que faço, mas me respeitam. Às vezes, é o coração quem está com a razão. Acontece! O mundo já é racional demais, preciso desse oásis emocional para sobreviver aos duros golpes da vida. Esse é o meu equilíbrio. Pessoal e intransferível. Cada um conhece o seu.
Existem aqueles que escolhem a razão e deixam de viver a emoção, ou deixam o coração em segundo plano, por medo de “arriscar" e sofrer. A vida não nos oferece garantias e, ao evitarmos um possível sofrimento, podemos estar nos jogando nos braços da solidão, barrando histórias antes mesmo que elas aconteçam. Penso bastante a respeito. Na dúvida, morro lutando, acreditando, sentindo...
Termino com uma frase de Manuel Clemente que resume a minha constante luta para balancear razão e emoção: “Mais vale morrer na praia do que levar uma vida a ver navios.”