Parabéns para mim!
“Envelhecer é o preço que todos temos que pagar se quisermos continuar vivos.”
(Érico Veríssimo)
Eu adoro fazer aniversário! Desde sempre. Desde que me entendo por gente. Vibro com a proximidade da data e comemoro de todas as maneiras possíveis, sozinha ou acompanhada. Sempre celebrarei o espacinho no calendário que o Universo reservou para me trazer ao mundo.
No dia 24 de fevereiro de 1975, fiz a minha estreia por aqui, e fui recebida com muito amor. Aguardavam-me uma mãe, um pai, uma avó e duas irmãs. Juntos vibraram a minha chegada, ansiosos por, enfim, conhecer a nova Rongo. Como sempre digo, até para nascer temos que ter sorte, e eu tive muita.
Às vésperas de completar 47 voltas ao redor do Astro Rei, pego-me pensando, refletindo, analisando os passos dados durante essa trajetória. Concluo que meu saldo é positivo. Apesar de todas as pedras que encontrei, e ainda encontrarei, pelo caminho, e dos tropeços, viver tem sido bom demais. Sou uma eterna apaixonada pela vida e tento fazer dela o melhor lugar possível para eu estar.
Como cheguei até aqui (2022!) tão de repente? Ontem mesmo estava apagando minhas dez velinhas, rodeada pelos amiguinhos da escola. Hoje, contabilizo 47 anos de experiências diversas, dores, amores, sabores, um filho que num piscar de olhos virou um homem de 18 anos, a saudade daqueles que já se despediram da vida, e a eminência da velhice.
E é sobre isso que quero escrever aqui, a velhice. As pessoas se incomodam quando eu digo que estou ficando velha. Jovem é que não sou mais, isso é um fato incontestável. Já percorri quase meio século e não há demérito algum nisso, ao contrário, é motivo de muito orgulho. Vivi todos os 47 anos com muito prazer e espero viver, no mínimo, mais uns 40. Todos eles me pertencem, foram vividos, sentidos, experimentados e acomodados confortavelmente na minha bagagem. Eles contam a história de quem eu sou. A velhice não apagará a juventude, elas apenas trocarão de lugar. A primeira assumirá seu posto e a segunda se tornará memória, doce memória.
É preciso desmistificar a palavra “velho”, parar de associá-la ao que é inútil, àquilo que não serve mais, obsoleto.
Mais uma vez, recorro ao dicionário da Língua Portuguesa, e encontro: “Velho é aquilo que tem muito tempo de vida ou de existência.” Apenas isso! Todos os adjetivos negativos que seguem o substantivo são por conta de nossos preconceitos.
Estou na minha melhor fase! Não me "consolem" dizendo que não sou velha ou me digam que não pareço ter a idade que tenho. A idade para mim não é um problema e não deveria ser para ninguém. Não percam tempo tentando dourar desnecessariamente essa pílula, não comigo.
Como disse Millôr Fernandes, “É preciso muito talento para envelhecer.” E completo dizendo que o principal talento é banir o etarismo, desfrutando cada fase como sendo única. Não há botão de rebobinar para reviver os melhores momentos, só nos resta proporcionar-nos outros melhores momentos, sempre e cada vez mais. O lance é deixar a balança da vida balanceada.
Em Fabianices+ O papo continua, meu segundo livro, há um capítulo intitulado “A tal da maturidade”, escrito no meu aniversário de 45. Nele, eu digo:
“É inevitável chegar aos 45 anos de vida e não pensar na tal da maturidade, mesmo acreditando que ela seja muito mais o resultado das experiências vividas do que dos aniversários comemorados ou da soma das velinhas apagadas. Para mim, maturidade não significa o quanto vivemos, mas sim o quanto aprendemos.”
A maturidade não vem no combo do envelhecimento. Maturidade e velhice não são sinônimos. As duas podem, sim, andar juntas, mas para isso temos que querer, temos que estar disponíveis a absorver cada aprendizado, cada lição que a vida nos apresentar no decorrer dela. Nem todo velho é sábio, isso é lenda. Envelhecer é diferente de amadurecer. Há pessoas que podem viver 100 anos e morrerão ignorantes e imaturas por opção, por recursar-se a entender, crescer e amadurecer.
Assim como a morte não torna o ruim bom, o avançar dos anos também não opera milagres, não torna ninguém maduro. Como eu disse, tem que querer, tem que se permitir evoluir e, assim, amadurecer.
Chego aos meus bem-vindos 47 anos de vida feliz e realizada, jamais pronta. Viver é estar em constante processo de construção. Que venha o frescor de um novo ano! Uma página em branco todinha minha esperando ser colorida. Espero poder pintá-la em tons vibrantes. Gosto assim!
Termino com o sábio conselho de Nelson Rodrigues aos jovens: “Envelheçam!”