Eu não sou todo mundo
“Você é único, então faça valer sua exclusividade.”
(Sandro Kretus)
Na adolescência, odiava ouvir da minha mãe o famoso “Você não é todo mundo!”, quando queria ir a algum lugar que todos os amigos iriam menos eu. Não existia frase mais irritante que essa àquela época. Porém, os anos foram passando, as experiências se acumulando, fui vivendo, aprendendo, amadurecendo e chegou o dia em que descobri que minha mãe estava certa. Não tenho dúvida alguma ao afirmar que esse é um dos melhores ensinamentos que ela me deixará como legado: EU NÃO SOU TODO MUNDO!
Somos seres singulares. Ninguém possui a nossa história. Nossas qualidades pessoais e nossos defeitos são diversos e juntos resultam em combinações inéditas. Nós somos feitos em versões únicas, não há cópia. Quando atingimos a vida adulta, o que passa a nos incomodar é justamente o inverso do discurso materno. Odiamos as comparações, o senso comum, sermos equiparados a outras pessoas. Não aceitamos ser colocados no patamar de “todo mundo”, principalmente quando o assunto é relacionamento.
Ao iniciarmos uma paquera, por exemplo, e começarmos a sair com alguém, mesmo que não se assuma a relação, nos sentimos especiais dentro daquele contexto. Não há ilusões ou pactos de fidelidade e promessas de namoro, mas, de alguma forma, um escolheu ao outro e estabelece-se uma intimidade. E a intimidade é como um segredo, não se entrega a qualquer um. Porém, um belo dia, uma das partes escolhe romper essa intimidade e posta uma foto em rede social com o par definitivo, o oficial. Entendemos, imediatamente, que houve uma pessoa escolhida. O recado está dado para todos os ficantes. Uma estilingada que atinge alguns passarinhos. Problema solucionado! Cada um que lute com suas próprias frustrações, possíveis dores ou rejeições.
Diante desta situação, percebemos que talvez não fôssemos tão especiais assim, e que apenas éramos uma estatística nas saídas ocasionais do outro. Éramos todo mundo! Eu sei, faz parte dessa vida adulta dita moderna na qual estamos inseridos, não há drama, mas sentimentos são sentimentos e não há como barrá-los, no máximo, conduzi-los e nisso estou me tornando craque.
Ao ser tratada como todo mundo, ratifico aquilo que já sabia, que eu não gosto nada disso. Mas sei, também, que quando o assunto é saídas, ficadas esporádicas e afins, só fazem com a gente aquilo que permitimos. Entendo que o outro me entrega apenas aquilo que tem a oferecer e que sou eu que não devo me nivelar a todo mundo. Sou eu que devo me respeitar em primeiro lugar. Sou eu que não tenho que me colocar em lugares que não me cabem. Sou eu, somente eu, que devo encerrar ciclos viciosos da minha vida e barrar os padrões de repetição que não me fazem bem.
Às vezes, a gente só precisa se escolher, e chamo isso de autocuidado. Se eu não sou todo mundo, e não quero ser tratada como tal, não devo agir como todo mundo. É quase uma equação matemática.
Eu jamais vou economizar sentimentos, faltei nessa aula, mas tenho aprendido a “gastá-los” de forma mais inteligente, de forma que me abasteça e não que me esvazie. Tenho subido alguns degraus na escala da evolução.
Como diz a frase que usei para abrir esse texto, eu sou única e devo fazer valer essa exclusividade. Eu não sou todo mundo!
Valeu, mãe!